segunda-feira, 10 de setembro de 2012


Há horas em nossa vida que somos tomados por uma enorme sensação de 
inutilidade, de vazio. Questionamos o porque de nossa existência e nada 
parece fazer sentido. Concentramos nossa atenção no lado mais cruel da 
vida, aquele que é implacável e a todos afeta indistintamente: as perdas
do ser humano.
Ao nascer, perdemos o aconchego, a segurança e a proteção do útero. 
Estamos, a partir de então, por nossa conta. Sozinhos. Começamos a vida 
em perda e nela continuamos.
Paradoxalmente, no momento em que perdemos algo, outras possibilidades 
nos surgem. Ao perdermos o aconchego do útero, ganhamos os braços do 
mundo. Ele nos acolhe: nos encanta e nos assusta, nos eleva e nos 
destrói. E continuamos a perder e seguimos a ganhar.
Perdemos primeiro a inocência da infância. A confiança absoluta na mão 
que segura nossa mão, a coragem de andar na bicicleta sem rodinhas 
porque alguém ao nosso lado nos assegura que não nos deixará cair... E 
ao perdê-la, adquirimos a capacidade de questionar. Por quê? Perguntamos
a todos e de tudo. Abrimos portas para um novo mundo e fechamos 
janelas, irremediavelmente deixadas para trás.
Estamos crescendo. Nascer, crescer, adolescer, amadurecer, envelhecer, 
morrer.
Vamos perdendo aos poucos alguns direitos e conquistando outros. 
Perdemos o direito de poder chorar bem alto, aos gritos mesmo, quando 
algo nos é tomado contra a vontade. Perdemos o direito de dizer 
absolutamente tudo que nos passa pela cabeça sem medo de causar 
melindres. Assim, se nossa tia às vezes nos parece gorda tememos 
dizer-lhe isso.
Receamos dar risadas escandalosamente da bermuda ridícula do vizinho ou 
puxar as pelanquinhas do braço da vó com a maior naturalidade do mundo e
ainda falar bem alto sobre o assunto. Estamos crescidos e nos ensinam 
que não devemos ser tão sinceros. E aprendemos. E vamos adolescendo, 
ganhamos peso, ganhamos seios, ganhamos pelos, ganhamos altura, ganhamos
o mundo.
Neste ponto, vivemos em grande conflito. O mundo todo nos parece 
inadequado aos nossos sonhos. Ah! Os sonhos! Ganhamos muitos sonhos. 
Sonhamos dormindo, sonhamos acordados, sonhamos o tempo todo.
Aí, de repente, caímos na real! Estamos amadurecendo, todos nos admiram.
Tornamo-nos equilibrados, contidos, ponderados. Perdemos a 
espontaneidade. Passamos a utilizar o raciocínio, a razão acima de tudo.
Mas não é justamente essa a condição que nos coloca acima (?) dos 
outros animais? A racionalidade, a capacidade de organizar nossas ações 
de modo lógico e racionalmente planejado?

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